sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Você sabe ABOLIR?

Se é para abolir, então abolamos.

Mas se não pudermos, então abola você.

Se for difícil, então junte uns amigos, e abolam vocês.

E se de tudo não for possível, deixa que eu mesmo abolo sozinho.

E já que estamos animados com essa história de abolição, vamos conjugar:

- que eu abola;
- que tu abolas (ou abulas?);
- que ela abola (ou abula?);
- que nos abolamos (ou abolemos?);
- que vós aboleis (ui);
- que elas abolam (ou abulam?).

Está surpreso? Estupefato? Doeram seus ouvidos? Isso é bom, demonstra que seu senso crítico está apurado. Percebeu que todas as formas do verbo abolir exemplificadas acima estão erradas.

O quê?! Você está me perguntando quais seriam as formas corretas?! Puxa, você estava indo tão bem.

Não pergunte isso!

ABOLIR é um verbo defectivo, algo assim como um oposto de verbo abundante. Procure verbo abundante neste blog, lá nos marcadores, aí nessa faixa cor de burro quando foge, à direita. Acho que você vai gostar. Mas, deixemos de digressões.

Conforme mundoeducacao.bol.uol.com.br/gramática, “verbos defectivos são aqueles que possuem conjugação incompleta, ou seja, não se conjugam em todos os modos, tempos e pessoas. Podem ser conjugados apenas nas formas arrizotônicas, ou melhor, nas formas cuja vogal tônica permanece fora do radical”.

Esqueça essa coisa de arrizotônica (ou não esqueça, pesquise), e foque nisto.

Os exemplos acima estão todos errados por que, pela ordem, o verbo abolir não tem:

- 1ª pessoa do plural do imperativo;
- 3ª pessoa do singular do imperativo;
- 3ª pessoa do plural do imperativo;
- 1ª pessoa do singular do presente do indicativo;
- todas as pessoas do presente do subjuntivo.

Se quiser saber como são todos os modos, tempos e pessoas, peça, que eu posto nos comentários (não quero sobrecarregar o post).

E estamos abolidos, ou melhor, estamos conversados.

Devanir Nunes
ultima-flor-do-lacio.blogspot.com.br

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Haver, um sujeito incompreendido

Dia desses encontrei-me com um velho amigo, Haver, conhecido por alguns como difícil de entender. Para a maioria, ele geralmente é intransitivo, às vezes direto, ás vezes indireto. Para outros, ele soa pronominal ou até transobjetivo. Ao ouvir essa última classificação, ele se encrespou, temendo ser considerado outro tipo de trans, e disse que quem o conhece bem sabe que, pelo menos ocasionalmente, ele é um substantivo masculino. Eita!

Perguntei a razão de estar irritado, e ele disse que se considera incompreendido, com o que tive que concordar. Você aí! É, você mesmo! Vai dizer que o compreende bem?

Explicou-me então que frequentemente o relegam a segundo plano, substituindo-o por outros que não o representam tão bem, e que, frequentemente, complicam o entendimento.

Respondi: “Ora, meu amigo, não tem nada haver. Ops, acabei escorregando. Vou repetir. Ora, meu amigo não tem nada A VER.”

Então ele me mostrou vários exemplos, dos quais repasso alguns.

Já reparou que o Haver está sujeito às condições do tempo? Não, não estou falando do clima, mas do tempo verbal.

Muitas vezes o Haver deveria ser considerado como algo que já não sabemos se está ali, como um PRETÉRITO IMPERFEITO, mas há quem insista em vê-lo como se estivesse PRESENTE. Observe.

“Quando o médico chegou, eu já estava esperando  três horas.”

Perceba, se ESTAVA esperando, então é pretérito imperfeito. Estava, num tempo passado (pretérito) e não sabemos se deixou de estar ou se ainda está (imperfeito). Então não pode ser HÁ três horas. Porque HÁ é presente, não pretérito. Tem que ser havia. Logo, o correto é dizer:
“Quando o médico chegou, eu já estava esperando HAVIA três horas.”

Coitada da pessoa, se ainda estiver lá neste momento, pois então está esperando HÁ muito mais que três horas.

“Por que não HAVIAM?”, talvez você questionasse. Aí tenho que concordar que o Haver é mesmo difícil de compreender. É que, nesse exemplo, ele está sendo impessoal. Ou seja, “três horas” não é sujeito, logo o verbo não tem que concordar com ele. Aliás, é muito comum quererem que o Haver concorde com alguma coisa quando isso não é possível.

Outro exemplo:

“Eu me lembro que em 1978 estava casado há nove anos.”

Não preciso explicar de novo, certo? Todo mundo já sabe que o correto é:

“Eu me lembro que em 1978 estava casado HAVIA nove anos.”

Não sei dizer se o sujeito (ou a "sujeita") ainda está casado (a), mas se está, agora em 2016, então está HÁ cerca de 47 anos (havia 9, há 47).

Uma vez flagrei uma repórter do SBT (13/06/15 – 11h50) usando esse tempo corretamente, o que mostra que nem tudo está perdido no universo televisivo. Parabéns, menina, seja lá quem for. Ela falava sobre a morte de Fernando Brandt, ocorrida na véspera, e disse:
“Fernando Brandt lutava contra um câncer de fígado HAVIA dois anos.”

Outra queixa do meu amigo é que, já não bastasse ser substituído pelo TER, agora estão a substituí-lo pelo POSSUIR. Estamos, literalmente, vivendo a época da praga do POSSUIR. Tivemos “a nível de”, “vou estar anotando”, entre outras barbaridades, e agora vem a praga do POSSUIR. Aliás, até o TER está reclamando disso.

Mas isso é assunto para outro post.

Devanir Nunes
ultima-flor-do-lacio.blogspot.com.br

Já era hora de voltar

Como todo blog (ou pelo menos um bom número deles), este também passou por um recesso. Um longo e indesejado recesso. Não vou ficar aqui explicando os porquês. Estou de volta, e é isso que interessa.

Devanir Nunes
ultima-flor-do-lacio.blogspot.com.br