sexta-feira, 23 de março de 2012

Não fale ambiguamente

ambiguidade
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[Do lat. ambiguitate.]
S. f.
 1.     Qualidade ou estado de ambíguo.
 2.     E. Ling.  Anfibologia (1).
 3.     Automat.  Num servomecanismo, existência de dois ou mais estados de equilíbrio.
 4.     Lóg.  Sofisma verbal.

Os casos que vou relatar não são exatamente de ambiguidade, se considerarmos a definição ao pé da letra, conforme mostrado acima, extraído do Dicionário Aurélio. Mas por falta de termo melhor, resolvi enquadrá-los no conceito de ambiguidade, já que são frases que deixam o leitor ou ouvinte confuso, sem saber o que o emissor quis dizer.

O primeiro exemplo veio de uma locutora de rádio, ou melhor, de uma repórter de rua, que falava sobre o trânsito. Disse ela: "Na Rua Jardim Botânico o motorista enfrenta trânsito tranquilo."

Como assim "enfrentar", moça? Este verbo nos remete à ideia de dificuldades, de confronto, de disputa. Se o trânsito está bom, tranquilo, então o motorista vai se beneficiar, chegar mais cedo no trabalho. Não vai ter que enfrentar coisa nenhuma. Acredito que, uma vez que o trânsito no Rio de Janeiro anda tão caótico, em todos os lugares, ela deve estar habituada a dizer que "o motorista vai enfrentar trânsito difícil". Aí nem pensa mais na frase, apenas muda a palavra principal, que é como o trânsito se encontra. Mas, por favor, se encontrarem trânsito difícil na Rua Jardim Botânico, não me culpem. O fato que relatei aconteceu há muitos anos, quando ainda era possível encontrar trânsito fácil em uma rua ou outra. Bons tempos!

O segundo exemplo eu capturei de um noticiário televisivo. Peguei a notícia pela metade, pois estava fazendo outra coisa com a televisão ligada, mas quando alguém fala uma besteira, parece que meus neurônios registram automaticamente. Foi há pouco tempo, quando o Oscar estava sendo decidido; ou manipulado, se preferirem. A repórter falava de um filme onde muitas coisas boas aconteciam, e lascou: "Não basta mais nada para ser feliz."

Ai, meus provectos tímpanos! Evidentemente, a moça não deve saber muito bem o que significa bastar. Bastar significa ser suficiente. Então o correto seria ela dizer: "Basta aquilo para ser feliz". Ou: "Não é necessário mais nada para ser feliz". Se eu estivesse frente a frente com ela, diria: "Moça, agora basta!"

O terceiro exemplo vem do rádio, de novo. Assim como parece que os profissionais de SAC são os campeões do gerundismo, os locutores do audiovisual parecem despontar como campeões da ambiguidade. Anunciavam-se algumas promoções de uma determinada empresa. Alguns prêmios que o ouvinte poderia se habilitar a ganhar ligando para a emissora. O locutor então apresenta a seguinte pérola: "São muitos prêmios. É prêmio que não acaba mais. Mas tem que ligar agora, pois coisa boa assim acaba rapidinho". Pois é, acaba ou não acaba? Na dúvida, mudei de estação.

Devanir Nunes
ultima-flor-do-lacio.blogspot.com.br





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