A penúltima reforma – 1971 – teve
como principal modificação o fim dos acentos diferenciais. Palavras paroxítonas
homógrafas (que se escrevem do mesmo jeito), mas não homófonas (que não se
pronunciam do mesmo jeito), tinham – e deixaram de ter – acento diferencial
sôbre (aliás, sobre) as letras “e” e “o”. Ex: govêrno e governo (é); pilôto e
piloto (ó); sôbre e sobre (ó).
Na época eu era muito jovem
(como esse que me chamou de saudosista) e não achei nada demais. Mas hoje ...
sei não!
Vem cá, se vários séculos
atrás (especialmente na Grécia) “alguém” percebeu que havia necessidade de se
criar a acentuação para distinguir a pronúncia de umas palavras em relação a
outras, ou entendeu que o acento era necessário para se saber qual a sílaba
tônica, porque os modernos luminares acham que “acento já era”? Olhe para trás
nesse parágrafo. Aqui, sim, temos dois acentos que poderiam ser eliminados sem
problemas: cá, já.
O acordo ortográfico de 1990
despachou o trema e apagou o acento de várias palavras. Olha, acho que ainda
vamos ver muita barbaridade por causa disso. É claro que pessoas de alto nível
cultural (leem bons livros, assistem a bons filmes) não terão problemas. Mas veja
as pérolas com que tenho me deparado.
Meu filho chegou em casa
duvidando da professora. Guiana. Ele achava que a pronúncia da primeira sílaba
deveria ser como a de guitarra, e a professora achava que deveria ser
como em sagui – sagüi, antes do acordo).
Quanto a esse exemplo, até acho razoável que os dois estejam confusos, pois
trata-se de palavra de origem estrangeira. Incidentalmente, a pronúncia correta
daquela sílaba é semelhante à do nome Rui. Imagine que esse rapaz se casasse com uma moça de nome Ana, e resolvessem colocar na filha do casal um nome formado pelos nomes dos pais. A menina chamar-se-ia Ruiana. Pois então! É parecido.
Porém recentemente tenho
ouvido, principalmente na Rádio Melodia e na Rádio 93FM (duas rádios muito
ouvidas por crentes como eu), coisas bem mais esdrúxulas. Não anotei, devia, mas
lembro-me de alguns exemplos curiosos.
“Hoje é
aniversário do Jonatas”. Ah, tá pensando que o locutor falou Jônatas? Não, ele falou
“Jonátas”. Provavelmente deram o nome escrito para ele, sem o acento circunflexo na
primeira sílaba. O que está correto, pois a legislação brasileira admite a
omissão de acentos em nomes próprios. Mas em se tratando de um nome muito
conhecido no meio evangélico, é de estarrecer. O locutor se apegou tanto ao que
estava escrito, que nem pensou.
“O ouvinte fulano, de Vila
Rosali”. Advinha, em vez de “Rosalí”, saiu “Rosáli”.
“Eu questiono essa decisão”.
O locutor pronunciou “cuestiono”, quando o certo é “kestiono”. Quem (ou "cuem") poderá culpá-lo?
E tudo em nome da
padronização da língua nos países lusófonos. O inglês é falado em muito mais
países, e ninguém se preocupa com padronização. Alguns exemplos: theatre x
theater; centre x center. Ah, mas eles não usam acentos. Então ta.
Não concordo com a maioria dessas
mudanças. Nosso idioma é bem mais rico que o dos demais países que utilizam o
idioma de Camões. E isso deve ser acentuado.
Devanir Nunes
ultima-flor-do-lacio.blogspot.com
Excelente texto, Devanir. Apenas enriquecendo-o, lembro que a confusão da pronúncia das palavras com ou sem trema já vem de antes da extinção do trema. Já nos anos 80 e 90 eu observava o que apelidei de "Síndrome do Silvio Santos": pronunciar palavras como adquirir (adkirir) como sendo adcuirir. Hoje em dia é comum, até entre ministros do Supremo. O apresentador prevaleceu, seja pela repetição, seja pela penetração de seu programa. Outra síndrome do mesmo apresentador é a "do Sergipe". Para ele se vem "do Sergipe" ou se está "no Sergipe", quando o certo é "de Sergipe" e em Sergipe". Sinceramente, quem pretende falar ou escrever em veículos de comunicação de massa deveria primeiro fazer um bom curso de português. Já houve ministro do Supremo que tinha a doença do dequeismo,isto é, colocar a preposição "de" onde ela não cabia.
ResponderExcluirUm abraço
Marcos